A pandemia de Covid-19 acende a luz de alerta para as incertezas sobre a saúde da população carcerária no Brasil, tanto para quem está recluso de liberdade quanto para quem trabalha no sistema prisional. São Paulo registrou já no início de abril a primeira morte no setor. Um agente penitenciário, de 64 anos, faleceu no último dia 3 após ter contraído a doença durante as férias no nordeste do país. Ele já havia retornado para Dracena, interior de SP, e não resistiu após ser internado na UTI da cidade.
Mesmo que o agente não tenha tido contato com outros funcionários e presos, a situação expõe a urgência do debate sobre as condições de higiene, trabalho e isolamento nestes locais. O sistema prisional, em si, é marcado pela ausência de políticas de saúde. Há unidades que a presença médica é rara, sendo o trabalho de controle e administração de doenças é feito apenas por enfermeiros e com a falta de suprimentos e medicamentos.
Entre celas minúsculas e corredores estreitos, claustrofóbicos, agentes penitenciários e detentos de todos o país estão sujeitos, a todo instante, a se contaminar e propagar a doença. Pra somar ao quadro pavoroso: condições insalubres, lotação, falta de ventilação adequada e a inconstância no fornecimento de água. Segundo os últimos dados do Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias), até o final do segundo semestre de 2019 o Brasil tinha 773.151 pessoas privadas de liberdade em todos os regimes.
Ainda que muito distante da crise mundial causada pelo corona vírus, o documentário “A Gente”, de 2013, retratou com enorme realismo e naturalidade o cotidiano de carcereiros em uma penitenciária de São José dos Pinhais, na região de Curitiba, no Paraná. Com um olhar intimista, de quem já esteve no trato de presos por sete anos, o cineasta Aly Muritiba contou as histórias diante das perspectivas dos agentes penitenciários.
Com clareza, abordou a precariedade das contradições de trabalho, seja pelas dificuldades do dia a dia, problemas com algemas, falta de equipe, a ineficiência do poder público que age apenas no sistema punitivo, ausência de apoio e autonomia que colaboram ainda mais para uma enorme burocracia no setor. Para adentrar nesse universo, assista o documentário através do NOW e Vivo Play.