A Matéria Noturna é para mim um filme que versa sobre as relações interpessoais na contemporaneidade. Para tal, trabalhamos primeiramente com as noções de aridez e deriva, que acompanham a apresentação dos personagens e da cidade de Vitória, palco no qual eles se encontram e tecem suas relações. Posteriormente, vemos surgir a ideia da paixão (e do samba) como elemento que restabelece uma vivacidade ao indivíduo, relembrando-o de seu lugar de ação no mundo, mesmo que de maneira fugaz. Dessa maneira, a cidade de Vitória torna-se também personagem importante num filme que se constrói a partir das possibilidades de encontro que ela permite. O microcosmo do samba e a relação com o mar marcam a trajetória de Jaiane e Aissa, assim como marcam a história do Brasil e da diáspora africana que os trouxe até aqui. Ela, brasileira, motorista de aplicativo e cantora amadora de samba; Ele, moçambicano, tripulante de um navio cargueiro que ancora em Vitória. A cidade (e a vida), com toda sua crescente secura, é ainda ainda palco de encontros potencialmente transformadores, mesmo que sejam eles repletos de desencontros.

Bernard Lessa – Diretor