Quando, pela primeira vez, eu entendi que a palavra “gay” poderia me descrever, a palavra “peste” já estava intrinsecamente atrelada à ela. As pessoas que eu queria ser quando crescer estavam morrendo na TV, e me diziam que para cada ídolo pop nos holofotes existiam centenas de milhares nas sombras, invisíveis. Eles eram meus ancestrais, mas ainda assim sua humanidade me era negada. É por isso que a AIDS não é apenas um tema a se explorar, mas a própria fundação da minha identidade, da identidade de toda pessoa LGBTQIA+, tão trágico quanto transformador. Filmar estes primeiros corpos, ouvir estas primeiras vozes, me aliar a estes primeiros radicais, é rejeitar esta invisibilidade. Os Primeiros Soldados é a amorosa imaginação de uma linhagem, a invenção da minha árvore genealógica. Um filme sobre o sonho de ser a si mesmo completamente, seja lá o peso que o mundo coloque sobre os seus ombros; sobre a importância da comunidade e do apoio da nossa família escolhida. As histórias nunca contadas merecem um lugar de protagonismo. Foram estes personagens que criaram a possibilidade da minha existência, e não o contrário.

Rodrigo de Oliveira – Diretor