3 filmes lésbicos

Você já percebeu como é difícil encontrar um bom filme que retrate o amor entre duas mulheres? Geralmente colocadas como coadjuvantes de outras histórias ou objeto de algum fetiche puramente masculino, as lésbicas infelizmente ainda recebem bem menos atenção que os filmes gays masculinos.

Se formos levar em conta as ofertas dos serviços de streaming mais populares, o cenário fica ainda pior, sendo difícil indicar obras que fujam dos super conhecidos Carol (2015) e Azul é a Cor Mais Quente (Blue is the Warmest Colour, 2013).

Recentemente a Netflix lançou duas produções legais sobre o tema, Você Nem Imagina (The Half of It, 2020) e Secreto e Proibido (A Secret Love, 2020), que exploram fases diferentes de um relacionamento, sendo o primeiro sobre a descoberta da atração por alguém do mesmo sexo e o segundo sobre os últimos dias da vida de um casal que esteve junto por aproximadamente 70 anos, a maior parte deles em segredo.

Indico aqui 3 filmes que têm em comum a relação amorosa entre duas mulheres, mas que são apresentados dentro de culturas e/ou épocas diferentes, o que acaba criando um rico panorama sobre o assunto. Infelizmente existe um ponto em comum que acaba aproximando as três histórias: a repressão religiosa, sempre presente e sempre castradora da liberdade dos corpos, da liberdade de ser quem se é, independentemente de quem seja.

 

Rafiki (Wanuri Kahiu, 2018)
disponível no Telecine Play

Rafiki significa “amiga” em suaíli, um dos idiomas oficiais do Quênia, onde a palavra é usada por muitos homossexuais em situações em que não podem dizer namorada(o), parceira(o), etc.

No filme, Kena e Ziki se apaixonam e tentam manter uma relação dentro de uma estrutura que impede esse comportamento em cada pilar da sua existência, seja ela política, familiar ou religiosa.

Apesar de muito bem recebido em Cannes, sendo o primeiro filme queniano a fazer parte da programação oficial do evento, Rafiki foi proibido em seu país de origem, onde a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo é punida com até 14 anos de prisão.

Contando com uma atmosfera colorida, musical e relativamente leve, que se contrapõe ao tema e às consequências pesadas sofridas pelas protagonistas, Rafiki têm o mérito de retratar uma África um pouco diferente da que estamos acostumados a ver no cinema. E isso, por si só, já é um grande mérito. 

Dê o play nessa playlist e entre no clima.

 

Desobediência (Disobedience -Sebastián Lelio, 2017)
disponível na HBOGO

No mesmo ano em que nos presenteou com Uma Mulher Fantástica, pelo qual acabou ganhando o Oscar de Melhor Filme Internacional, o chileno Sebastián Lelio fez essa pérola baseada no livro de Naomi Alderman.

Ao saber da morte do pai, Ronit (Rachel Weiz) decide voltar para casa e se depara com toda a rigidez e conservadorismo da comunidade judaica da qual ela já fez parte. Nesse retorno, ela acaba reacendendo o interesse por uma paixão da juventude, Esti (Rachel McAdams), e desafiando toda uma estrutura que tinha no seu pai uma espécie de pilar e que continua na figura de Dovid (Alessandro Nivola), marido de Esti.

Mais além de retratar um romance entre duas mulheres, o filme é muito bem sucedido em apontar a religião como barreira na libertação da mulher dos laços mega patriarcais do judaísmo, simbolizados aqui pelo uso da peruca e pelos botões todos abotoados.

O cabelo solto de Ronit não demonstra apenas que ela viveu fora dessa comunidade, mas também se coloca como um desafio a todos aqueles que ainda vivem dentro dela. O cabelo solto incomoda, mas muitas vezes é a partir do incômodo que as coisas começam a mudar para melhor.

Fugindo do piegas e do moralismo barato, Lelio acredita na força da sua dupla de atrizes e aposta acertadamente suas fichas na ótima química entre elas.

 

Elisa & Marcela (Elisa y Marcela, 2019)
disponível na Netflix

Voltamos mais de um século para acompanhar a história de Elisa (Natalia de Molina) e Marcela (Greta Fernández), que se conheceram ainda muito jovens na época do colégio, e passaram anos fugindo até conseguirem enganar a igreja e se casarem. Na época o caso ficou conhecido como “O casamento sem homem”.

Apesar de não ter agradado muito os críticos, o filme encontrou seu público no serviço de streaming e é uma opção honesta para quem quer saber um pouco mais sobre essa história que, como muitos outras, é pouco conhecida dentro da memória coletiva masculina que nos empurram goela abaixo desde sempre.

Para que eu possa estar aqui hoje, vivo e podendo amar alguém do mesmo sexo, foi preciso existir muitas Elisas e Marcelas, e torço para que muitas mais possam existir e confrontar esse sistema que insiste em retroceder depois de tanta coisa já haver sido conquistada.

Lutemos sempre.

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