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“No espaço, ninguém pode ouvir você gritar.”
Com esse slogan, foi lançado um dos maiores clássicos da ficção científica. O ano era 1979 e o mundo tinha acabado de ser tomado por uma febre chamada Guerra nas Estrelas, que pavimentou o caminho para um gênero que até então era associado a obras de segundo escalão, os chamados filmes B. A partir do sucesso de George Lucas, a Fox acreditou ter mais um sucesso em mãos e deu sinal verde ao filme.
Dirigido por Ridley Scott, que na época tinha só um filme no currículo, Alien teve várias mudanças entre sua pré-produção e a obra que podemos assistir hoje em dia. A principal delas foi a decisão de transformar uma mulher em protagonista, quebrando qualquer tipo de expectativa que um espectador dos anos 70 poderia ter em relação à figura feminina dentro de um filme como esse.
Com o lançamento do filme, a atriz Sigourney Weaver e a personagem Ellen Ripley ganharam o mundo, pavimentando a estrada para a maioria das heroínas de filmes de ação que vieram a seguir e que são feitos até hoje.
Apesar desse pioneirismo, o filme ainda é bastante criticado pela cena em que a personagem aparece com pouca roupa. Enquanto algumas pessoas repudiam a cena alegando não haver qualquer necessidade narrativa para a mesma, outras defendem essa escolha justamente por mostrar Ripley em seu momento mais vulnerável frente à ameaça que enfrenta.
Uma das características mais marcantes da produção, além de ser uma das mais lembradas, é a sua direção de arte e design de produção. Ao contratar artistas com estilos completamente diferentes, o diretor conseguiu criar um contraste enorme entre o mundo dos humanos e dos alienígenas. A criatura e o planeta foram criados pelo artista plástico suíço H. R. Giger, enquanto Ron Cobb e Chris Foss foram responsáveis pelo visual de tudo relacionado aos seres humanos.
O mundo criado por Giger causou fascínio e repulsa na época do lançamento, considerando que seus trabalhos anteriores aos vistos no filme ainda não tinham chegado ao alcance do grande público. O desenho do alien em si serviu de base para a criação de diversos monstros vistos no cinema nos anos que seguiram, tornando difícil a não comparação.
Talvez pelo diretor ter vindo da publicidade, o trailer do filme (assim como seu slogan) é sempre citado como um dos mais influentes do cinema. Ainda que datado, é possível perceber o começo de uma linguagem que continua basicamente a mesma, principalmente se levarmos em conta o gênero suspense/horror/thriller.
A franquia Alien está disponível no Telecine Play.
Trailer Oficial
Making of
Continuando no campo da ficção científica, agora com a escritora Ursula Le Guin e seu livro mais conhecido, A Mão Esquerda da Escuridão, publicado em 1969 e que ganhou uma edição comemorativa de 50 anos pela editora Aleph em 2019.
O livro narra a viagem do diplomata Genly Ai (um terráqueo) ao planeta chamado Gethen. Sua tarefa é convidar os habitantes do planeta para uma espécie de confederação interplanetária da qual diversos outros povos de vários cantos do espaço já fazem parte.
A missão aparentemente simples de Genly ganha contornos mais complexos quando ele aprende mais sobre os habitantes de Gethen: eles são ambissexuais, podendo assumir ambos os sexos, masculino e feminino.
Essa premissa super original é o ponto de partida para a autora discutir, sempre nas entrelinhas, a questão do machismo simbolizado aqui pelo personagem que vem da terra, dentro de um mundo onde essa noção não existe, visto que a priori todes em Gethen são mulher e homem ao mesmo tempo.
“Resistência e mudança muitas vezes começam na arte.”
Quer conhecer um pouco mais sobre quem era a Ursula? O discurso abaixo diz muito sobre como funcionava a mente dessa escritora fascinante.
“Qual é a sua diretora brasileira favorita? ?”
Aproveitando que estamos no mês da mulher, resolvemos indicar algumas obras que gostamos muito, para você curtir no conforto da sua casa.
Num mundo ideal, faríamos uma lista muito maior, mas vamos começar indicando esses 9 filmes de 9 diretoras que nós amamos.
Como já diz a sabedoria popular: devagar e sempre.
Na próxima edição tem mais! 🙂
// Alice Riff
No começo da semana conversamos com a diretora Alice Riff sobre cinema, seu amor por documentários e seu próximo projeto.
Q&A
Quais cineastas que de alguma forma serviram de inspiração para o seu trabalho?
Sempre gostei de filmes “pequenos”. Os filmes da Agnès Varda, da Chantal Akerman, os filmes do Jafar Panahi, filmes caseiros e que tratam de situações cotidianas e domésticas sempre me interessaram. Tanto porque eu via que era possível fazer cinema, quanto porque eram temas que de fato me interessam. Eu sempre fui fascinada por essa coisa do cotidiano e do comum.
O que você acredita ser a maior força de um documentário?
Eu não tenho muito interesse em documentários que tem como objetivo informar. Gosto de filmes que propõem uma experiência, que haja troca de energia entre o filme e quem o assiste. Filmes que, em algum momento, uma revelação acontece.
Fazer um filme, para mim, é abrir um espaço de tempo na vida de um grupo de pessoas para que a gente reflita sobre questões humanas.
E você acha que essa mesma dinâmica pode ser alcançada com filmes de ficção?
Acho que sim. Da mesma forma que os documentários se utilizam de ferramentas ficcionais e vice-versa, no processo ambos são obras vivas e em constante transformação. Cada diretor e diretora tem seu processo, e isso é bom. Não há uma regra para se fazer um filme. Acredito em construções colaborativas, em que todos tem espaço para criar.
Você tem vontade de trabalhar com outros formatos?
‘O Policial e a Pastora’, o projeto em que estou trabalhando no momento, é diferente dos meus trabalhos anteriores. São retratos distintos e o que os une é muito sutil. Até o momento, a estrutura é um díptico. E estou achando interessante pensar nesse formato e suas possibilidades de exibição.
Como você acha que o cinema irá se comportar depois da pandemia?
Acho que todo o mundo tem muitas saudades de se encontrar, de passear juntos, de almoçar juntos, então eu acho que o ir ao cinema sendo o evento social que é, também é algo do qual as pessoas sentem falta. Elas podem ver tal filme em casa? Sim. Mas isso não quer dizer que elas não queiram mais a experiência de vê-lo na sala de cinema, de confraternizar, de trocar ideias.
Por outro lado, na semana passada estava acontecendo a Berlinale eu pude acompanhar uma mesa com o diretor Apichatpong, deitada na minha cama de manhã, e foi maravilhoso. Agora podemos acompanhar todos os festivais, tudo no nosso tempo e sem sair de casa, e isso é muito bom também.
ALICE RIFF é cineasta. Diretora de Eleições (2018, 100′), Meu Corpo é Político (2017, 70′) e Platamama (2018, 82′) e “Orquestra Invisível Let’s Dance”. Os filmes passaram por importantes festivais nacionais e internacionais como Visions du Reel, Dok Leipzig, Festival do Rio, BAFICI, e Olhar de Curitiba.
É crime compartilhar nudes? ?
A resposta é sim! Além de responder um processo cível, a pessoa que divulga, distribui ou compartilha imagens íntimas sem o consentimento da vítima, incorre no crime tipificado no artigo 218-C do Código de Processo Penal.
Ferrugem está disponível nas plataformas digitais. Assista!
“Antes de começar esta história anedótica sobre a minha vida como diretora de cinema, permita-me apresentar a você aquele que preencheu minha vida completamente … Meu próprio Príncipe Encantado. O cinema.”