O cinema de Kelly Reichardt
Antecipando o lançamento de First Cow – A Primeira Vaca da América, um dos melhores filmes do ano passado, resolvemos falar um pouco sobre a obra de uma das mais importantes vozes do cinema independente norte-americano recente.
A diretora fez sua estreia com o filme River of Grass, em 1994, chamando a atenção dos críticos em festivais como o Spirit Awards e Sundance, mas foi apenas com seu filme seguinte, Antiga Alegria (feito 12 anos depois), que ela se consolidou como uma das novas vozes mais interessantes do cinema independente.
De lá para cá, Reichardt se especializou em contar histórias simples mas cheias de nuances, geralmente situadas nos arredores do Oregon e tendo o protagonismo feminino bastante evidenciado. Até mesmo nos filmes protagonizados por homens, é possível perceber o interesse da diretora por aspectos pouco explorados do universo masculino.
Listamos aqui nossos filmes favoritos da diretora (em ordem de preferência):
First Cow - A Primeira Vaca da América (2020) | disponível na Mubi
COLÍRIO
Depois de não ter acontecido em 2020, o festival de cinema mais importante do mundo voltou a partir de terça (06/07) e a gente comemora relembrando alguns dos cartazes mais bonitos de suas 74 edições.
Aproveitamos para fazer uma lista (sim, nós amamos listas) com os 10 filmes em competição selecionados para a edição 2021 que mais estamos ansioses para assistir, além das participações brasileiras que esse ano aparecem fora de competição.
- Memoria (Apichatpong Weerasethakul)
INDICAÇÃO DA SEMANA // LIVRO
Sucesso de público e aclamado pela crítica nos Estados Unidos o romance de estreia do poeta Ocean Vuong é um retrato devastador de uma família, um primeiro amor e o poder redentor da narrativa. Sobre a Terra Somos Belos por um instante é uma carta de um filho para uma mãe que não sabe ler. Escrita quando o palestrante, Cachorrinho, está com quase 30 anos, a carta desenterra uma história de família que começou antes dele nascer e morar nos Estados Unidos – uma história cujo epicentro está enraizado no Vietnã – e serve como uma porta de entrada para partes de sua vida que sua mãe, que carrega cicatrizes da guerra, nunca teve conhecimento, com direito a uma revelação inesquecível. Ao mesmo tempo um testemunho do amor intenso e inegável entre uma mãe solteira e seu filho, é também uma exploração brutalmente honesta sobre raça, classe e masculinidade. Com surpreendente urgência e graça, Ocean Vuong escreve sobre pessoas presas entre mundos díspares e pergunta como podemos curar e resgatar uns aos outros sem abandonar quem somos.
CINEMA EM CASA // MANHÃS DE SETEMBRO
Estreou no último dia 25, no Amazon Prime Video, a série brasileira ´Manhãs de Setembro´, estrelada por Liniker e Karine Teles, Thomas Aquino, Paulo Miklos e o menino Gustavo Coelho, uma grande revelação.
A história acompanha Cassandra (Liniker), uma mulher trans que abandonou a cidade natal para ir em busca de seu sonho: se tornar cantora. Depois de passar por várias dificuldades, encontramos ela num bom momento: com emprego, um apartamento alugado, um namorado carinhoso e a chance de fazer o que ela mais gosta: cantar. E ela mostra todo o seu talento fazendo covers da cantora Vanusa.
Esse momento de aparente calmaria muda quando Leide, uma mulher com quem Cassandra se envolveu no passado, bate em sua porta afirmando que a criança junto dela é filho das duas.
Essa premissa um tanto Almodovariana é uma delícia de acompanhar, em especial pelo elenco afiado e pelas interpretações musicais tocantes de Liniker.
Dá o play nesse álbum clássico da Vanusa para entrar no clima
FIQUE DE OLHO // EMBAÚBA PLAY
A Embaúba Play é uma nova plataforma de conteúdo audiovisual, mas ao contrário da maioria das opções que vemos no mercado, ela é focada no cinema nacional, o que por si só já é um enorme diferencial.
A partir de julho, a plataforma irá convidar um(a) diretor(a) por mês para propor uma seleção de filmes dentro da Embaúba Play. Essa primeira seleção ficou a cargo do diretor e curador Eduardo Valente.
OS INFINITOS MUNDOS DA FICÇÃO propõe um conjunto de filmes que expõe algumas das mais diferentes formas pelas quais um grupo bastante heterogêneo de jovens cineastas brasileiros explorou, nos últimos quinze anos, as possibilidades da linguagem ficcional. Nestes dezesseis filmes, sendo oito longas e oito curtas, podemos ver propostas, às vezes das mais radicais, na crença no poder da fabulação e da imaginação como caminhos produtivos para refletir e iluminar a nossa realidade.
A seleção fica disponível durante todo o mês de julho no site da Embaúba Play:
ANTÓNIO UM DOIS TRÊS, Leonardo Mouramateus
A ALEGRIA, Felipe Bragança e Marina Meliande
A SEITA, André Antônio
DOCE AMIANTO, Guto Parente e Uirá Reis
MANGUE NEGRO, Rodrigo Aragão
O BARCO, Petrus Cariry
SEUS OSSOS SEUS OLHOS, Caetano Gotardo
TEOBALDO MORTO ROMEU EXILADO, Rodrigo de Oliveira
ALFAZEMA, Sabrina Fidalgo
AS SOMBRAS, Juliana Rojas e Marco Dutra
NÁUFRAGOS, Gabriela Amaral Almeida e Matheus Rocha
OS MORTOS VIVOS, Anita Rocha da Silveira
OS ÚLTIMOS ROMÂNTICOS DO MUNDO, Henrique Arruda
O PORTEIRO DO DIA, Fábio Leal
QUINZE, Maurilio Martins
RETIRADA PARA UM CORAÇÃO BRUTO, Marco Antonio Pereira
FILMES OLHAR
Lisboa, Portugal. António foge de casa e bate na porta de sua ex-namorada em busca de ajuda. Débora tem poucas horas em Lisboa antes voltar finalmente ao Brasil. Johnny se prepara para dirigir sua primeira peça de teatro quando seus verdadeiros problemas vêm à tona. Três dimensões da mesma história. Direção: Leonardo Mouramateus
António Um Dois Três está disponível nas plataformas digitais. Assista!
Encerramos com as palavras de Judith Butler, uma das principais teóricas contemporâneas do feminismo e da teoria queer, também conhecida por seus estudos no campo da filosofia política e da ética:
“A possibilidade não é um luxo. Ela é tão crucial quanto o pão.”
Por um mundo, e um Brasil, com mais possibilidades e também com mais pão.
Boa semana, usem máscara e cuidem-se.
